Bastidores de um bloqueio: Câmara enfrenta tensão e pedidos de punição
No meio de uma crise política aguda, a Câmara dos Deputados virou palco de cenas inusitadas e bem tensas. No início de agosto de 2025, Hugo Motta, presidente da Casa, decidiu encaminhar nada menos do que 14 parlamentares de oposição para a Corregedoria — tudo por conta de um bloqueio intenso nas sessões dos dias 5 e 6. Quem acompanhou de perto viu deputados literalmente impedindo o trabalho legislativo, num ambiente de hostilidade e disputa por espaço.
O estopim foi uma decisão do STF, assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, contra o ex-presidente. Isso levou integrantes do PL, Novo e até do PT a adotarem táticas físicas dentro do plenário: escadas bloqueadas, cadeiras ocupadas à força e discussões ao vivo na frente das câmeras. O episódio mais falado foi quando Zé Trovão (PL) usou as pernas para bloquear o acesso à mesa da presidência e quando Marcel Van Hattem (Novo-RS) insistiu em não deixar a cadeira de Motta — e resistiu por mais de cinco minutos, mesmo após pedidos claros para sair.
E não foi por falta de aviso. Na véspera, Motta já tinha alertado: quem empacasse o plenário seria suspenso do mandato por seis meses e removido pela polícia legislativa. Esse recado foi dado numa reunião com líderes partidários — só PL e Novo não participaram do acerto. Mesmo assim, a resistência durou quase duas horas, só terminando após a entrada da polícia interna da Câmara, pressionando para liberar o funcionamento da sessão.

O que pode acontecer com os 14 deputados
Agora, o jogo está nas mãos do corregedor Marcelo Aro, que vai analisar as ações dos parlamentares. O trabalho dele é decidir se arquiva o caso ou se avança para o Conselho de Ética, onde as punições podem ser pesadas, como suspensão do mandato por até 180 dias. A análise está sendo feita com base em imagens do circuito interno e nos relatos colhidos durante o tumulto.
Hugo Motta contou à imprensa que vários líderes de partidos pediram punições exemplares, principalmente para os deputados mais envolvidos na confusão. O PT, inclusive, já protocolou um pedido específico para punir Van Hattem, apontando abuso no ato de impedir o início da sessão.
Se a Corregedoria decidir encaminhar o caso e a Mesa Diretora aprovar (por maioria absoluta), o Conselho de Ética assume o controle e passa a conduzir o processo, ouvindo testemunhas e definindo se os deputados merecem advertência, suspensão temporária ou alguma outra retaliação. Diferentemente de pedidos diretos de suspensão, esse trâmite via corregedoria costuma levar mais tempo, mas permite, em alguns casos, a aplicação de sanções preliminares imediatas, evitando que situações parecidas se repitam enquanto a Casa não decide o destino dos envolvidos.
Para quem acompanha política por dentro, cenas como essa não são inéditas, mas mostram como o clima de polarização e embate direto pode atravessar os limites do debate e virar disputa física, exigindo respostas rápidas não só para garantir a ordem, mas também para proteger a imagem institucional da Câmara.