× Vale Tudo Críticas UFC Casa Branca Flamengo Público Baixo Vilão Vale Tudo

Câmara aprova PL Antifacção e proíbe presos de votar; Rodolfo Nogueira celebra vitória

Câmara aprova PL Antifacção e proíbe presos de votar; Rodolfo Nogueira celebra vitória
Gisele Henriques 20 novembro 2025 0 Comentários

A Câmara dos Deputados aprovou na terça-feira, 18 de novembro de 2025, o PL Antifacção (PL 5582/2025), conhecido como Marco Legal do Combate ao Crime Organizado, com 370 votos a favor, 110 contrários e três abstenções. O destaque que proíbe o voto de presos — aprovado por 349 a 40 — foi celebrado pelo deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS) como "uma vitória para as forças de segurança". "Preso não vota mais no Brasil", afirmou ele em vídeo nas redes sociais, em tom de triunfo. A medida, que já divide opiniões, é parte de um pacote mais amplo que endurece penas, cria mecanismos de confisco e redefinir o que é considerado organização criminosa ultraviolenta. E o mais inesperado? A aprovação veio mesmo enquanto o governo federal, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, tentava manter o controle da pauta.

Um projeto que mudou de mão

Originalmente apresentado pelo Executivo, o projeto foi entregue ao relator Guilherme Derrite (PP-SP), que o transformou radicalmente. O texto original propunha medidas de combate ao crime organizado, mas Derrite ampliou o escopo: definiu como "organização criminosa ultraviolenta" grupos que usam armas de fogo, explosivos, drones, dominam territórios, atacam presídios ou controlam economias ilegais. A mudança foi tão profunda que, segundo fontes da CNN Brasil, o Palácio do Planalto ficou insatisfeito — especialmente com a retirada de cláusulas que protegiam direitos de presos e com a ampliação de poderes da polícia e do Ministério Público.

Penas que assustam e bens que desaparecem

As penas passaram a ser as mais duras da história recente. Crimes cometidos por integrantes de facções passam a ser classificados como hediondos — sem possibilidade de fiança, livramento condicional, anistia ou indulto. Se for homicídio de criança, a pena pode chegar a 40 anos. Para líderes de facções que usam tecnologia avançada, como drones para ataques ou logística, a pena pode saltar para 66 anos. E não é só isso: o projeto cria o Banco Nacional de Organizações Criminosas, que vai reunir dados de integrantes, financiadores, empresas-lava-jato e até contas digitais. Essas informações serão compartilhadas entre estados e União — algo nunca feito antes no Brasil.

Além disso, o texto autoriza o confisco de bens — imóveis, veículos, ações, criptomoedas — mesmo antes do julgamento final. Basta um pedido do Ministério Público ou da Polícia Federal, com autorização judicial. "Isso quebra o modelo de enriquecimento ilegal que sustenta as facções", afirmou o deputado Marcos Pollon (PL-MS). "Classificar esses grupos como terroristas integra o Brasil aos sistemas de inteligência globais. Não há mais como lavar dinheiro sem ser detectado."

Presos não votam — e isso é só o começo

Presos não votam — e isso é só o começo

O destaque que proíbe o voto de presos provisórios e condenados foi o mais polêmico. Até então, mesmo quem estava preso tinha direito ao voto — desde que não fosse condenado por sentença transitada em julgado. Agora, basta estar detido, mesmo que em regime provisório, para ter o título de eleitor cancelado automaticamente. "É uma derrota para quem defende criminosos", disse Nogueira. Mas juristas e defensores de direitos humanos já alertam: isso pode ser um passo perigoso. "Estamos criminalizando a condição de prisão, não o crime", diz a professora de direito constitucional Ana Paula Mendes, da USP. "O voto é um direito político, não um privilégio. Excluir milhões de pessoas por estarem presas pode abrir caminho para outras exclusões."

Na prática, isso afeta cerca de 800 mil pessoas atualmente detidas no Brasil — mais da metade delas em prisão provisória, sem condenação. Muitas são jovens, negros, pobres. E, apesar de não terem sido julgadas, perderão o direito de escolher seus representantes. "É um sinal claro: o Estado não quer ouvir quem está dentro da cela", observa o sociólogo Carlos Eduardo Almeida, da UFRJ.

O que vem a seguir: Senado e o veto de Lula

O projeto agora segue para o Senado Federal, onde a discussão promete ser ainda mais tensa. O governo tem 26 senadores entre os 81 — e a base aliada já demonstrou descontentamento. A oposição, por outro lado, vê no projeto uma oportunidade de consolidar uma agenda de segurança rígida, com apoio popular. Mas há um ponto crítico: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode vetar trechos. O que ele não pode vetar é a própria aprovação — o projeto já passou por dois turnos na Câmara e tem apoio técnico de instituições como a Polícia Federal e o Ministério da Justiça.

Se o Senado aprovar sem mudanças, o veto presidencial será o próximo capítulo. Se houver alterações, o projeto volta à Câmara. E se o veto for derrubado? Aí, a lei entra em vigor — e o Brasil terá uma nova realidade jurídica, com presos sem voto, bens confiscados antes da condenação e líderes de facções em presídios de segurança máxima, com todas as conversas monitoradas.

Um novo modelo de segurança, ou uma nova forma de repressão?

Um novo modelo de segurança, ou uma nova forma de repressão?

O projeto traz avanços reais: a criação do banco de dados integrado, o confisco de ativos digitais e a tipificação clara de organizações criminosas são ferramentas que faltavam há décadas. Mas o custo é alto. Ao eliminar o voto de presos, o Legislativo ignora um princípio fundamental da democracia: a presunção de inocência. E ao permitir confisco antes do trânsito em julgado, o Estado se coloca acima da justiça.

Os defensores dizem que é preciso agir com dureza contra o crime organizado, que já matou mais de 50 mil pessoas por ano nos últimos cinco anos. Os críticos respondem: não se combate violência com mais violência institucional. O que está em jogo não é só segurança pública — é o próprio modelo de democracia que queremos.

Frequently Asked Questions

Quem pode votar agora no Brasil, segundo o novo PL Antifacção?

Agora, apenas pessoas que não estão detidas em estabelecimento prisional — seja provisória ou definitivamente — podem manter o título de eleitor. Mesmo quem foi preso sem condenação final perde o direito ao voto automaticamente. O cancelamento ocorre assim que o nome entra no sistema prisional, independentemente do tipo de crime ou da fase do processo.

Quais crimes passam a ser considerados hediondos com o novo texto?

Todos os crimes cometidos por integrantes de organizações criminosas ultraviolentas, como homicídios, tráfico de drogas, sequestros, ataques a presídios ou instituições financeiras. O texto especifica que, se o crime for praticado com armas de fogo, explosivos, drones ou agentes biológicos, e for vinculado a uma estrutura organizada, automaticamente se torna hediondo — sem direito a fiança, indulto ou livramento condicional.

Como será feito o confisco de bens antes da condenação?

A polícia ou o Ministério Público podem pedir bloqueio de bens — imóveis, contas bancárias, criptomoedas, cotas de empresas — com base em evidências de ligação ao crime organizado. Um juiz analisa o pedido em até 72 horas. Se aprovado, os bens são bloqueados imediatamente. O proprietário pode contestar depois, mas o bem já está sob controle do Estado, mesmo que o julgamento ainda não tenha terminado.

O que é o Banco Nacional de Organizações Criminosas e como ele funciona?

É um sistema centralizado que reúne dados de todos os integrantes, financiadores e empresas ligadas a facções criminosas. Os dados vêm de polícias estaduais, PF, Receita Federal e até bancos. O banco será acessado por autoridades com permissão, e compartilha informações em tempo real. A ideia é identificar redes de lavagem e financiamento transnacional — algo que, até agora, era feito de forma fragmentada e lenta.

Por que o governo Lula não gostou do projeto?

O governo considerou o texto excessivamente punitivo e com riscos de violação de direitos constitucionais. A retirada de cláusulas que protegiam direitos de presos, a permissão de confisco sem sentença e a exclusão do voto foram vistas como retrocessos. Além disso, o Palácio do Planalto queria um projeto mais focado em prevenção e reinserção social — não apenas em repressão.

O que pode acontecer se o Senado aprovar o texto como está?

Se o Senado aprovar sem alterações, o projeto vai para a Presidência da República. Lula poderá vetar trechos específicos — como a proibição do voto ou o confisco prévio — ou sancionar integralmente. Se vetar, o Congresso pode derrubar o veto com maioria absoluta. Se sancionar, o texto vira lei e entra em vigor em 180 dias, mudando radicalmente o sistema penal brasileiro.

Postagens Similares

Conselho de Ética Aprova Relatório para Cassação de Glauber Braga com Votação de 10 a 2

O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados aprovou o relatório recomendando a cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) em uma votação de 10 a 2. O ocorrido se refere a um incidente em que Braga removeu fisicamente um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) da Câmara, após ser insultado. O deputado tem dez dias úteis para apresentar sua defesa.

Câmara aprova PL Antifacção e proíbe presos de votar; Rodolfo Nogueira celebra vitória

A Câmara aprovou o PL Antifacção, proibindo presos de votar e impondo penas de até 66 anos para líderes de facções. Rodolfo Nogueira celebrou, mas o governo Lula critica o texto por violar direitos constitucionais.