Nos meses recentes, a política externa russa voltou seus olhos para o Cáucaso do Sul, uma região que, embora relativamente pequena, possui uma importância geopolítica imensa. As manobras de Vladimir Putin na área procuram alavancar novos caminhos comerciais e reafirmar a presença da Rússia, especialmente em tempos de sanções e isolamento global decorrentes da guerra na Ucrânia.
O Azerbaijão, um dos principais atores desta região, tem se mostrado essencial na execução dessas estratégias. Este pequeno porém poderosíssimo país, rico em recursos energéticos, tem aumentado significativamente suas exportações de gás para a União Europeia. Isso se dá em um contexto onde a Europa busca urgentemente reduzir sua dependência do gás russo. No entanto, o Azerbaijão conseguiu um equilíbrio delicado, mantendo seus laços com exportadores de energia russos e facilitando uma rota alternativa para o gás russo alcançar mercados estrangeiros sem infringir sanções.
No centro dos planos russos está a proposta do Corredor de Zangezur, um elo viário e ferroviário que atravessa o sul da Armênia. Historicamente, esta via não é nova: ela revive a antiga Rota Pérsica utilizada durante a Segunda Guerra Mundial, que conectava a Rússia ao Irã. A reativação deste corredor traria enormes benefícios econômicos e logísticos, permitindo à Rússia contornar algumas das restrições atuais, proporcionadas pelo conflito em curso na Ucrânia.
O Azerbaijão, ao facilitar esta conexão, se coloca em uma posição vantajosa, servindo de ponte entre a Rússia e os mercados do Oriente Médio e além. Com isso, mantém um pé em cada uma das esferas de influência, tanto ocidental quanto russa, garantindo benefícios econômicos visíveis de ambas as partes.
Enquanto o Azerbaijão equilibra suas relações com todo o cuidado, a Geórgia apresenta um cenário distinto, complexo e cheio de contradições. Apesar dos anseios declarados de se alinhar mais à União Europeia e ao Ocidente, a realidade prática demonstra uma inclinação notável em direção à Rússia. Esse desvio está entrelaçado com figuras importantes da elite política e econômica georgiana, como Bidzina Ivanishvili, cujas ligações com Moscou são profundas e substanciais.
Aferir a balança do poder na Geórgia envolve entender uma interseção complicada de interesses políticos, econômicos e estratégicos. Em meio a uma crise política crescente, os investidores russos têm encontrado um terreno fértil para expandir suas operações, mais uma vez alavancando a influência russa na região.
Embora a presença russa no Cáucaso do Sul seja significativa, não é de modo algum incontestada. O Ocidente, juntamente com outras potências globais, mantém um olhar atento e iniciativas concorrentes para consolidar suas próprias influências na região. Cada movimento de Putin encontra barreiras e contestação, e a dinâmica de poder no Cáucaso permanece uma questão aberta e em constante evolução.
Assim, o jogo oculto de Putin no Cáucaso do Sul não só é complexo, mas também repleto de implicações vastas que ultrapassam as fronteiras da região. A habilidade da Rússia em navegar essas águas turvas determinará não apenas a estabilidade do Cáucaso do Sul, mas também o equilíbrio do poder global no futuro próximo.